segunda-feira, 4 de abril de 2011

A curva do Café precisa acabar em Interlagos?

  • Por Leo Nishihata

A morte do piloto Gustavo Sondermann nesse domingo criou uma avalanche de críticas a três aspectos: a resistência estrutural dos carros da Copa Montana, a atitude da organização da prova em liberar a largada em condições de baixa visibilidade, e a necessidade de alterações no autódromo de Interlagos. É sobre essa última que vale observar: boa parte das pessoas que pedem mudanças (como uma chicane) na curva do Café são as mesmas que reclamam da falta de emoção dos Tilkódromos atuais. Boa parte dos críticos são os mesmos que gostam de falar do crime que foi feito com a desativação do traçado antigo de Interlagos, e dos bons tempos em que pilotos tinham que ter culhões de verdade para fazer curvas de alta com o pé embaixo. Existe certo e errado numa hora dessas?

Minha opinião como espectador é de que não, o Café não pode acabar, sob o risco de Interlagos tornar-se um autódromo ainda mais comum. Curvas de alta delineadas por muros são desafiadoras, são arrepiantes, e não precisam ser extintas do automobilismo – que o digam a Nascar e a Indy. Prefiro acreditar que a solução esteja em bólidos mais resistentes, menos obsoletos, na limitação de largadas em condições climáticas adversas, e mesmo na criação da tão propalada área de escape para que os pilotos não sejam jogados de volta à pista em caso de acidente. Se for preciso derrubar parte das arquibancadas, que isso seja feito e ponto.
A curva do Café (item 14 no mapa acima) antecede a reta dos boxes e é feita com aceleração máxima, trocando marchas ao longo da subida que começa na curva da Junção. Seu histórico de acidentes está se tornando extenso: Mark Webber e Fernando Alonso em 2003, sem maior gravidade, Rafael Sperafico em 2007, o piloto de moto João Lisboa, pouco mais de dois meses atrás, e Gustavo Sondermann agora. Os últimos três terminaram em óbito.
Resistência estrutural dos carros, condições climáticas adversas e a suspeita de um pneu de chuva montado do lado contrário, deixando tudo isso à parte, o fato é que muita gente – como o piloto de Stock Car Felipe Maluhy – pede ou uma redução na velocidade do ponto, ou a criação de uma área de escape de verdade, em substituição à arquibancada que começa justamente naquele local. Aparentemente, a administração de Interlagos e a Vicar acham inviável financeiramente destruir aquele setor da arquibancada, e tendem a optar pela chicane feita ali para o Mundial de Motovelocidade anos atrás.
Mortes no automobilismo tendem a mudar a maneira como as coisas são feitas. A onda dos Tilkódromos teve início exatamente após as mortes de Senna e Ratzenberger. Em 1995, um ano depois dos fatídicos acidentes, Hermann Tilke transformava o veloz e perigoso autódromo austríaco de Österreichring no encurtado e travado A1 Ring. O resto você já sabe. Hoje, na Fórmula 1, as mortes rarearam na mesma medida em que as emoções e o desafio de se superar os limites da sanidade em uma pista de corrida foram trocados por pit-stops, KERS, asas móveis e outros artifícios.
Esta é uma discussão em que não existe resposta fácil, afinal colocar na mesma discussão vidas humanas e o fascínio de um esporte já é, por natureza, algo moralmente discutível. Mas continuo acreditando que é possível trazer mais segurança ao esporte sem prejudicar um dos traçados mais desafiantes do automobilismo.

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